NOTÍCIA
Uma mãe, portuguesa residente em França, criou a filha desde o nascimento até aos 2 anos dentro da mala do carro mantendo-a fechada e sozinha comparecendo apenas para a alimentar e mudar a fralda.
A mulher levou o carro ao mecânico, certo dia, e este ao consertar o erro do veículo ouviu ruídos vindos da bagageira. Quando abriu a parte de trás do carro encontrou a menina, Serena, visivelmente assustada e desnorteada cheia de larvas e fraldas sujas à sua volta. Rapidamente chamou a polícia e a mulher, Rosa Cruz foi detida.
Hoje, está aberto o julgamento ao caso de Serena, assim como todas as provas e conclusões tiradas da investigação que ocorria desde 2013.
Fig.2 - Rosa Cruz e o marido a apresentarem-se no tribunal.
Os exames forenses feitos ao cabelo de Serena confirmam que a menina foi medicada com substâncias químicas presentes em medicamentos que são utilizados como analgésicos e anestesiantes."Nenhuma dessas substâncias é indicada para crianças com menos de seis anos e é discutível o uso em menores. E quando ela foi encontrada tinha 23 meses", esclareceu esta segunda-feira no tribunal de Tulle, França, o pediatra que observou a menina nas horas seguintes a ser descoberta, em outubro de 2013.
O perito explicou que "só viu crianças no estado de Serena nas guerras do Leste da Europa" e que o caso o deixou chocado: "Já vi muito raquitismo, mas nunca nada como esta menina. Em França já não há nenhuma criança assim há muitos, muitos anos", afirmou.
Rosa Cruz no julgamento afirmou estar arrependida. "É muito duro ser confrontada com esta realidade, com o mal que lhe fiz. Não li a acusação, não queria saber o mal que lhe tinha feito. Lamento imenso" , afirmou a arguida, de 50 anos, desempregada, a quem a Justiça devolveu os outros três filhos, com idades entre os 9 e 17 anos.
Rosa Cruz poderá ser condenada a 20 anos de prisão. A menina Serena nunca estará 100% bem a nível psicológico, pois os primeiros anos de vida são muito importantes nível de criação de laços e desenvolvimento tanto motor como cerebral.
COMENTÁRIO
Segundo os cientistas, os psicólogos e psiquiatras sabemos que o ser humano nasce inacabado e incapaz de sobreviver sozinho (inacabamento biológico) ao contrário de todos os outros animais que já nascem com características e instintos que lhes permitem a sobrevivência e a independência.
Porém, compensar o incabamento biológico é uma tarefa complexa, que exige tempo e obedece a ritmos próprios. A extrema fragilidade e falta de preparação inata para o mundo, isto é, a neotenia da espécie humana, conduzem ao prolongamento do período biopsicológico da infância e da juventude.
Esse período biopsicológico acontece principalmente na infância que é quando a plasticidade desenvolvida pelo cérebro está mais apta a captar mais ensinamentos e ligações emocionais, ou seja, mais apta à adaptação. Os primeiros dois anos de vida de uma criança são muitos importantes para o seu desenvolvimento, tanto físico como psicológico o que me leva a pensar nesta menina.
Os primeiros dois anos da sua vida foram passados sobre analgésicos demasiado fortes para o seu corpo, ao escuro, sem ligações emocionais nenhumas ou comunicação aparente o que me leva a a concluir que esta criança perdeu uma grande parte do seu desenvolvimento neuropsicológico.
Com isto, a incompletude presente no momento do nascimento e o caráter neotécnico da espécie nunca serão totalmente ultrapassados. No entanto, para esta menina será duas vezes mais dificil de adquirir a independência, a ligação emocional com as pessoas e a comunicação com a sociedade, embora ainda haja esperança para ela, pois a neuroplasticidade está muito presente na infância e na juventude.
Por fim, com a devida ajuda profissional, a criança será capaz de se adaptar ao seu novo mundo que para nós não tem nada de novo. Não será tarefa fácil e levará muito tempo, mas esta acabará por conseguir.
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