NOTÍCIA
fIG. 1. Resistência aos antibióticos
Mais de 40 mil pessoas podem morrer em Portugal na sequência de infeções por bactérias resistentes a antibióticos até 2050, estimando-se que por ano morram acima de 1.100 portugueses, segundo um estudo esta quarta-feira divulgado pela OCDE.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) traça uma estimativa mundial dos efeitos da resistência a antimicrobianos a nível da mortalidade, morbilidade e custos económicos.
Portugal exibe dos mais altos resultados de mortalidade no conjunto de mais de 30 países analisados, com 11,3 por 100 mil habitantes, apenas ultrapassada por Itália, com 18,2 e pela Grécia, com 14,8. No país, os valores de mortalidade anual são quase o triplo da média dos países da OCDE e o dobro da média da União Europeia. Para Portugal estima-se uma mortalidade anual entre 2015 e 2050, em média, de 11,3 mortes por cada 100 mil habitantes devido a infeções por bactérias muito resistentes. A média da OCDE é de 4,72 mortos por 100 mil habitantes a cada ano.Segundo os dados da OCDE, Portugal terá uma média anual de mais de 1.100 mortes por infeções por bactérias muito resistentes até 2050. Significa assim que, entre 2015 e 2050, morrerão mais de 40 mil pessoas. Em Espanha, por exemplo, a OCDE calcula mais de 77 mil mortes, mas o país apresenta uma proporção de mortalidade bem inferior à de Portugal, com quatro mortes por cada 100 mil habitantes em cada ano.
Do ponto de vista global, o relatório da OCDE estima 2,4 milhões de mortes na Europa, América do Norte e Austrália até 2050 por infeções de bactérias muito resistentes a antibióticos.
Fig.2 - Resistência aos antibióticos e excesso de consumo dos mesmos
Contudo, três em cada quatro mortes podiam ser evitadas gastando apenas cerca de dois dólares (1,74 euros) por ano por pessoa em medidas simples, como melhor higiene de mãos, sobretudo entre os profissionais de saúde, e melhor utilização dos antibióticos.
Sobre a realidade portuguesa, o especialista Filipe Froes, pneumologista e intensivista, indica que é também fundamental apostar na prevenção e dar mais condições de trabalho às estruturas responsáveis pelo combate a estas infeções, dotando-as de mais recursos técnicos e humanos.
Portugal tem programas de apoio à prescrição antibiótica (PAPA), mas, segundo o último relatório do Programa Nacional de Resistência a Antimicrobianos, mais de 30% dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde ainda não o tinham aplicado em 2017.
De acordo com o relatório do Programa Nacional da Direção-geral da Saúde, 66% dos hospitais públicos tinha um PAPA com um médico responsável pelo programa. Já nos centros de saúde, menos de 15% tinham um programa de apoio à prescrição antibiótica implementado.
Aliás, o relatório do Programa Nacional identificou que “subsistem dificuldades em algumas unidades de saúde para darem seguimento à implementação” desses programas, nomeadamente no que respeita “à afetação do número de horas para os profissionais de saúde”.
COMENTÁRIO
Cada inidivíduo é bioquimicamente único. A individualidade biológica é definida pela presença na superfície das células de macromoléculas (glico-proteínas) que são diferentes das macromoléculas das células dos indivíduos de outra espécie, de outro indivíduo da própria espécie e, por vezes, mesmo de outras células do mesmo indivíduo que experimentaram mutações. Essas moléculas funcionam como moléculas identificadoras do indivíduo e são a expressão de genes que existem sob diferentes formas alélicas.
Quando o indivíduo é invadido por um agente patogénico, desencadeiam-se mecanismos de defesa.
A imunidade é o estado de resistência de um organismo em relação a um fator patogénico, ou ainda, um estado de resistência de um organismo em relação a um fator patogénico, com qual ele já entrou em contacto. Consiste, também, nos diversos processos fisiológicos que permitem ao organismo reconhecer corpos estranhos ou anormais, neutralizá-los e eliminá-los.
As linhas de defesa do organismo são variadas. Algumas estão presentes em todos os seres multicelulares e constituem mecanismos de defesa não específica, funcionando de forma idêntica para diferentes tipos de agentes agressores. Estas respostas designam-se, globalmente, por imunidade inata. Outras foram adquiridas mais tardiamente na evolução das espécies, só aparecendo nos vertebrados, e constituem a imunidade adaptativa, que inclui mecanismos de defesa específicos. Este tipo de imunidade depende da existência de diferentes populações de células linfóides.
Os antibióticos, por sua vez, são medicamentos destinados ao tratamento de infeções causadas por bactérias, não atuando sobre infeções causadas por vírus, como é o caso das constipações e gripe, ou seja «, quando o nosso sistema imunitário não consegue responder nem tratar da infeção por si só, embora ainda lute, precisa de ajuda e é por isso que recorremos a este tipo de medicamentos.
As bactérias e o vírus existem por toda a natureza. O nosso corpo tem normalmente tantas bactérias quanto células humanas. A maioria não faz mal ou provoca apenas doenças ligeiras. As bactérias, por exemplo, contribuem para o fabrico do queijo ou dos iogurtes. Estas, multiplicam-se rapidamente, a cada vinte minutos. Os antibióticos podem bloquear a capacidade das bactérias se multiplicarem. No entanto, algumas bactérias resistem aos antibióticos. Porquê?
Quando tomamos um antibiótico, as bactérias existentes no nosso corpo que são sensíveis a esse antibiótico acabam por morrer. Mas, ao multiplicarem-se, algumas bactérias sofrem modificações, isto é, mutações que as tornam resistentes a esse antibiótico, dando origem a novas bactérias filhas que se vão multiplicando, pelo que o antibiótico deixa de atuar.
Por fim, todos os antibióticos podem originar bactérias resistentes. Quanto mais um antibiótico for ultilizado, maior é a possibilidade de existir resistência à sua ação. Em Portugal, está registado um grande abuso no consumo de antibióticos cuja consequência está explícita no número de mortes existentes e no número de mortes futuras.
Bibliografia
Tag: Investigação
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